INGRATIDÃO
Herói de mim mesmo tornei
Brandindo a lança da justiça e do perdão!
Sabiamente o bom senso usei,
Tomando sempre acertada decisão!
A Gregos e Troianos agradei!
Às vezes complacente, outras talião.
À luz da razão regi a lei
Sem ser tirano ou rufião.
Ah! Mas maldita paixão!
Eu que era imune às quimeras...
Às fraquezas do coração
Caí nas garras da pantera.
Eu, que sempre fora justo e ditoso
Fui julgado com ultraje e humilhação.
Fizeram-me verme repelente
Afastado do humano convívio.
E a maldita! Dizia sorridente:
- Veja a que tornei o nosso Ovídio...
Escorraçado vaguei na inclemência do sol.
Esbofeteado pela intrepidez dos ventos!
Não encontrei nenhum arrebol,
Ninguém! Ouviu meus lamentos...
Então, já na suprema desgraça,
Bradei aos céus em calmaria:
Pietá! Pietá! Virgem Maria!
Uma mão doce, o rosto me acaricia...
Uma voz branda, me cicia:
- Vá filho... e dos homens jamais espere graça...