INGRATIDÃO

Herói de mim mesmo tornei

Brandindo a lança da justiça e do perdão!

Sabiamente o bom senso usei,

Tomando sempre acertada decisão!

A Gregos e Troianos agradei!

Às vezes complacente, outras talião.

À luz da razão regi a lei

Sem ser tirano ou rufião.

Ah! Mas maldita paixão!

Eu que era imune às quimeras...

Às fraquezas do coração

Caí nas garras da pantera.

Eu, que sempre fora justo e ditoso

Fui julgado com ultraje e humilhação.

Fizeram-me verme repelente

Afastado do humano convívio.

E a maldita! Dizia sorridente:

- Veja a que tornei o nosso Ovídio...

Escorraçado vaguei na inclemência do sol.

Esbofeteado pela intrepidez dos ventos!

Não encontrei nenhum arrebol,

Ninguém! Ouviu meus lamentos...

Então, já na suprema desgraça,

Bradei aos céus em calmaria:

Pietá! Pietá! Virgem Maria!

Uma mão doce, o rosto me acaricia...

Uma voz branda, me cicia:

- Vá filho... e dos homens jamais espere graça...

POETADADOR
Enviado por POETADADOR em 11/02/2007
Código do texto: T377083