Mulheres de areia
Elas surgem da imaginação
Dos homens apaixonados
Sonhadores ou mal amados
Eles desenham seus delírios
Afogam seus justos anseios
Usam todos os meios
Para se livrarem da solidão e
De seus martírios
Criam-nas nuas, seminuas
E deixam-nas soltas no meio da rua
Vão-se os anos, tudo passa
A felicidade fica escassa
No tempo nada ultrapassa
O vencimento da devassa
E ela não mais o abraça
E você fica sem graça
Mulher de areia
Mulher que já foi sereia
Esculpidas, atrevidas, caídas
Na teia da minha mente feia
Não possuem sete vidas
Misturam-se com os defeitos
Resultado de efeitos e das causas
E das menopausas
Mulheres saradas
Que nunca foram taradas
Mulheres inúteis, fúteis
Despreparadas
Em busca de pamonhas
Que não mordem fronhas
Querem cegonhas
Mulheres inconhas
Mulheres vencidas, falidas
Mulheres de areia
Semblante de cara cheia
Parecem vítimas de uma peia
Com sua preguiça feia
Tudo tem seu tempo
Na mulher que me fascina
No tempo que me ensina
Que tudo foi passatempo
E o tempo findou no contratempo
Do meu próprio tempo
Mulher que eu criei
Mulher que eu cativei
Que eu inventei, consolidei
Eu próprio, por minha culpa
Minha máxima culpa
Desativei
Mulher que canta
Mulher que encanta, que espanta
Com cara de santa
Que da minha vida toma conta
Mulher que foi embora
Fora de hora
Mulher presente
Que se torna ausente
Tão de repente, amarguradamente
Mulher de areia que se tornou serpente
Impiedosamente