Mulheres de areia

Elas surgem da imaginação

Dos homens apaixonados

Sonhadores ou mal amados

Eles desenham seus delírios

Afogam seus justos anseios

Usam todos os meios

Para se livrarem da solidão e

De seus martírios

Criam-nas nuas, seminuas

E deixam-nas soltas no meio da rua

Vão-se os anos, tudo passa

A felicidade fica escassa

No tempo nada ultrapassa

O vencimento da devassa

E ela não mais o abraça

E você fica sem graça

Mulher de areia

Mulher que já foi sereia

Esculpidas, atrevidas, caídas

Na teia da minha mente feia

Não possuem sete vidas

Misturam-se com os defeitos

Resultado de efeitos e das causas

E das menopausas

Mulheres saradas

Que nunca foram taradas

Mulheres inúteis, fúteis

Despreparadas

Em busca de pamonhas

Que não mordem fronhas

Querem cegonhas

Mulheres inconhas

Mulheres vencidas, falidas

Mulheres de areia

Semblante de cara cheia

Parecem vítimas de uma peia

Com sua preguiça feia

Tudo tem seu tempo

Na mulher que me fascina

No tempo que me ensina

Que tudo foi passatempo

E o tempo findou no contratempo

Do meu próprio tempo

Mulher que eu criei

Mulher que eu cativei

Que eu inventei, consolidei

Eu próprio, por minha culpa

Minha máxima culpa

Desativei

Mulher que canta

Mulher que encanta, que espanta

Com cara de santa

Que da minha vida toma conta

Mulher que foi embora

Fora de hora

Mulher presente

Que se torna ausente

Tão de repente, amarguradamente

Mulher de areia que se tornou serpente

Impiedosamente

Luiz Bento (Mostradanus)
Enviado por Luiz Bento (Mostradanus) em 20/05/2012
Reeditado em 20/05/2012
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