ALMA DE PALHAÇO
Desbotaram as cores
envelheceram lembranças
da noite para o dia,
ou não?...
Nada mais de utopia ou fantasia,
só a realidade nua e fria,
acabou a farsa!
Pincelo com fúria a tela sem vida,
uso cores das angústias sentidas.
Mascaro a pálida face,
uso massa ou argamassa,
não quero que ninguém veja...
Preciso de um disfarce
que endureça a tristeza.
Cubro de luto o corpo,
vivi por um amor bandido
hoje morto, banido!
Sob o manto do não ser
desvenda-se o não ter,
revela-se o não mais querer,
oposto do que pensei existir
desfaz-se o esforço de tanto insistir,
cai a lona...
Na trincada taça dos sonhos
transborda o sangue da dor...
Sorvo da desilusão o amargor,
de uma só vez!
Tranco os sonhos no armário escuro
e nesse circo desleal e impuro,
amordaço emoções, calo o verso!
Mesmo no reverso, acho forças para sorrir...
Coração trincado em estilhaços,
por fora, matéria feita de aço.
Por dentro, em remendos
chora minha alma de palhaço...
2007