Belas as defuntas
Como são belas, essas defuntas
com suas mãos em preces, juntas
são tantas. Conto total de vinte e duas
todas elas sincronizando as preces suas
Vinte duas cabeças bem cadavéricas
que se unem a boca do verme assassino
que cantam o seu delicadíssimo hino
junto ao instrumento da carne colérica
Eu amo essa carne que apodrece,
junto com a alma que vai e desce
para nosso inferno mais profundo
juro: um dia eu vi o péssimo inferno
e era um antro de sofrimento eterno
o maior que eu vi em todo o Mundo!
Sinceramente, eu só sirvo para sofrer dores
e sou irmão mais velho daqueles gemedores
que nunca encontraram amor puro na vida
e digo a todos eles por favor viva, não tema,
pois para tudo que passas tenho um poema
e abro lhes essas paginas, dou uma boa lida
A vida é que nem um cemitério gigantesco
com cheiro acre de sangue podre ou fresco
que ninguem no mundo inteiro diz que gosta
eu estou quase que morto nesses meus passos
por isso mesmo eu confirmo, nos meus traços,
que somente a morte nos tem alguma resposta
Porque, nesta vida, eu não achei resposta alguma
perguntei as mentes sãs e praticamente nenhuma
disse-me com sua certeza que havia do outro lado
o chicote que nunca acabava seu desgraçado vicio
de espancar, e até sangrar, as costas do meretricio
e todos aqueles que viveram a vida de jeito errado
Mas talvez este meu longo sofrimento seja universal
e eu apenas tenha aprendido com alguém muito mal
a endurecer a minha própria pessoa a esses horrores
mais de repente vejo a luz nirvânica neste céu denso
e de repente com uma belissima esperança eu penso
que talvez algum dia terei encontrado meus amores