AUSÊNCIA
Aos passos vacilantes sobre as pedras
do que foi meu destino entregue ao fim,
eu sinto perfurados os meus pés,
que expelem sangue pútrido das perdas.
Perdi, perdi as nuvens e as estrelas,
perdi os sóis dos céus e as revoadas
dos pássaros libertos da coragem,
por me pensar a salvo em terra infértil...
Que nada! Saraivadas me agrediram,
quebraram meus joelhos combalidos,
calaram toda a voz da dignidade,
que berra amordaçada em veios d'alma.
E choro o sangue expulso destas veias,
que secas, se trituram em pedaços
de vida mutilada e tão disforme,
que até minha saudade é surda e cega.
Só resta-me afundar no edaz abismo,
morrer-me lentamente em vil partida,
perdendo a cada dia um grão de crença,
tingindo o peito em gris de minha ausência.