Meus lábios serão teu.
Eu poderia ser destroços de um corpo esticado em um asfalto. Inerte, emudecida. Silenciada pela vida e agora reprimida pela morte.
Mortos não sentem. Mas também não sofrem..
Ou poderia simplesmente não ter mais sentimentos. Possuir no lugar do coração um bloco cinza de concreto, que impediria que perigos entrassem.
Ou, também, poderia ser uma pessoa mais fria. Indiferente a tudo, calada como o meu amigo Tan que é descendente de japonês.
Mas não sou.. a vida me fez sentir. Mais do que isso, me faz viver e morrer com cada sentimento dentro de mim.
Seja qual for, mesmo que seja incompreendido, eu sempre jogo-me em direção a eles. Por isso que sofro com partidas, adoeço com saudades e choro com impossibilidades.
E por me jogar tanto, as vezes caio em abismos.
E é por sentir tanto que eu me magoo tão facilmente.
Posso sentir as olheiras se formando quando eu te olho e não posso fazer nada mais do que te desejar em silêncio.
Toda minha força se vai e eu me sinto o chacolhar dos meus ossos e não as batidas do meu coração.
Cada parte de mim vai se desfazendo lenta e solenemente quando eu lembro que a improbabilidade me separa de você...
E isso dói tanto.
Se a vida me fizesse ter um pouco mais de juízo e me fizesse sem um pouco mais equilibrada, eu tenho certeza que saberia aprender a lidar melhor com meus sentimentos.
E aposto que teria coragem de dizer para você o que eu sinto. Mas eu não tenho.
Então eu guardo meu segredos entre os lábios, que espero que um dia sejam teu, e dia após dia vou morrendo um pouco mais, aguardando virar destroços de um corpo inerte no asfalto. De alguém que morre por ti.