Hoje choro
Os ventos da montanha me paralizam as ideias inúteis
são coisas intrinsicamente para mim mesmo tão fúteis
não ha esperança entre os atomos materiais do mundo,
pois o universo todo é só um antro de monstros terriveis
feito somente das carnes tolas, mais do que putrescíveis,
substancias feitas de um barro de pura podridão oriundo
O mundo não gosta do que penso pois não sei me expressar
minhas idéias vão se embora, como as carnes do meu jantar
eu ainda fico sozinho na minha mansão e morrendo de fome
mas ninguém ouvi o meu brado talvez muito mais que fraco
eu fico com a minha estrutúrea osséa reduzida ao mero caco
de ser um espirito fantasmagórico sem nem o próprio nome!
O tom da noite escura me lembra de minha própria viuvez
e passo por ruas que me parecem já foram passadas de vez
vi do nada, uma venda, e fui ver o que tal venda me vendia,
eu fui perceber com o toque anesteziado, o cheiro estragado
de uma carne que tinha apodrecido com o passar desse dia
e chorava pela fome das crianças que passavam no mercado
somente eu, na minha solidão e na pessadíssima melancolia
Pensei em me matar quando o sino da igreja bateu meia noite e meia
os homens bons já foram para cama, após tomarem a sua bonita ceia
e talvez nenhum ser, nem alado, nem amaldiçoado notaria o meu vôo
se eu pulasse da janela mais alta toda a dor acabaria muito mais cedo
então dou ouvidos aos meus demonios e, dentro de mim mesmo, cedo
e o ato metafísico da possessão do espirito me mete ansias de enjoo
E os demônios me diziam: “tú, morto, não sofrerás absolutamente nada
vá me frente Ernani, jogue-se como lixo desencarnado na suja estrada
és apenas a ração carbonizada e cara na longuíssima e suja epiderme
a menina com quem estava acostumado a chamar de "meu único amor"
pediu-me para que a esqueçesse de todo, que se entregasse a sua dor
para que tu cortasse sua pele para entrega-la aos Deuses-Verme
Eu já não sei que força é essa: coercível
com a propriedade específica de horrível
que rudemente chega e sempre me impele
e parto pro Mundo que chamam de sadio
e belíssimo, lógico, mas na vida de vadio
nenhuma dessas sensações me tocou a pele