Versos Quaisquer

Cansado da obviedade das coisas

Da palidez das cores em mortas flores

Do pensar não mais cativado,

Sepultado em banalidades corriqueiras

Com toda sua moldura que por mais bela que seja

Encerra em si todo seu vazio existencial,

Tendo no belo seu único predicado,

Que quanto mais desvelado é, mais falso se mostra

Como pesada corrente com ouro folheado

Descascado pelo passar do tempo.

Cansado do calor que me amortiza

E em martire de coisa alguma me condiciona,

Convertendo minha força em fraqueza

E a fraqueza numa franqueza

Que me faz assumir uma face de insondável riso,

Ocultando tudo aquilo que me vem,

Que me tem e o que não tenho

Deixo numa máscara de cenho

Meu último semblante

De outrora fervoroso amante da vida

E seus doces mistérios

Revelados em conversas desconversadas

Não mais tidas, apenas lembradas

Na nostalgia de um passado sepultado

E por fim só me resta a obviedade das coisas

Exibidas num quadro de natureza morta.

JP 23/04/12