Fina Estirpe, um caso sério.
“Vivi, estudei, amei e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.”
(Álvaro de Campos – Tabacaria)
A fina estirpe que me cobriu um dia,
Hoje é seca alma, desossada.
Creiam os que creiam na via
Das passagens terrenas abrutalhadas.
Traças, são (somos) todas as traças.
Massas, vivem (os) todos nas massas.
Farsas, todas as mentiras (que contamos) foram farsas.
Amadas, as últimas foram (por nós) as mais amadas.
Os tapetes dos hárens de Deus,
Destituíram-se com a febre humana.
E ainda hoje, dormem nos braços de Orfeu,
A cobardia, o luxo e a infâmia.
E acreditem, os maléficos se deram bem.
A ralé é que é desproporcional.
Os nobres na ceiam dizem Amém.
Enquanto os pobres comem a micha nacional.
O vernáculo tesouro foi roubado.
O que sobrou foi a ditadura,
A corrupção, a morte o estandarte queimado
E noite escura.
Ainda assim, o improdutivo poeta escreve.
Eu sou um ninguém, um nada.
Poderia amar a todos e ser alegre.
Mas preferi sofrer, e sem amada.
Eu sou muito reles. Apavorante!
Eu sou hediondo a mim mesmo.
Eu roubei meu direito de ser ignorante.
Vivi, estudei, amei, e até cri, a esmo.