Epifania Poética
Todo poeta sofre de um mal obscuro.
Primeiro tudo parece resplandecer.
Mas não se engane com o chispar soturno.
A inspiração é apenas o alvorecer.
Aqueles pensamentos inacabados,
Que se acabam nos versos.
É tudo sortilégio da abantesma dos velados.
È prosa dos mortos escrivães eternos.
Não se cansam de escrever.
Nem depois da morte dão sossego.
A escrita não se interrompe ao morrer.
Poetas nós? Puro gracejo.
Não somos escritores nem poetas.
A inspiração epifânica da alma
Vem de levas e levas
De’scritores antigos com pressa e sem calma.
Quando escrevemos praticamos mediunidade
Dos artistas dos séculos que se foram.
Pensar pena nossa é pura mediocridade.
Em nossa mente versos obscuros moram.
O êxtase e o fascínio das palavras
Tornam-nos cegos diante
Destas endiabradas
Ousadias de um necromante.
Não há louvor na escrita moderna.
É tudo apenas traço do passado.
Ser escritor é fruto da quimera
Escrever hoje é usar o braço.