Cidade despaginada

Minha cidade é uma cidade diferente

Não tem fundo nem tem frente, não tem estrada nem mapa

O povo anda à socapa

Vivendo de fantasia

Dentro da alegoria

Nem o vigário escapa.

Minha cidade não revive sua História

Mas sua glória é consagrar picareta

Mutilar arte e retreta

Em paredões de ruína

Configurando a sina

De um viver sem etiqueta

Minha cidade é uma rainha esmaecida

Que se perdeu pela vida como puta de tostão

Não falo da convulsão

Dos modos tradicionais

Que os tempos não voltam mais

Fincados na escuridão

Minha cidade é burgo despaginado

É hiato esclerosado, cada casa um mausoléu

Descrido incréu

Em sangue, sonho e plexo

Somente a força do sexo

Levanta a ponta do véu

Minha cidade é um sitio solitário

Que salafrário quer transformar em boiada

Em massa simplificada

Sem vontade ou sintonia

Sofrendo com arritmia

Esquiva, torpe e parada

Minha cidade no embalo de um som triste

Dolente assiste os seus fantasmas queridos

Solitários, abatidos

A colher flores funestas

Restos de antigas festas

Escombros, faustos falidos

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Fábio Mozart
Enviado por Fábio Mozart em 30/03/2012
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