Cidade despaginada
Minha cidade é uma cidade diferente
Não tem fundo nem tem frente, não tem estrada nem mapa
O povo anda à socapa
Vivendo de fantasia
Dentro da alegoria
Nem o vigário escapa.
Minha cidade não revive sua História
Mas sua glória é consagrar picareta
Mutilar arte e retreta
Em paredões de ruína
Configurando a sina
De um viver sem etiqueta
Minha cidade é uma rainha esmaecida
Que se perdeu pela vida como puta de tostão
Não falo da convulsão
Dos modos tradicionais
Que os tempos não voltam mais
Fincados na escuridão
Minha cidade é burgo despaginado
É hiato esclerosado, cada casa um mausoléu
Descrido incréu
Em sangue, sonho e plexo
Somente a força do sexo
Levanta a ponta do véu
Minha cidade é um sitio solitário
Que salafrário quer transformar em boiada
Em massa simplificada
Sem vontade ou sintonia
Sofrendo com arritmia
Esquiva, torpe e parada
Minha cidade no embalo de um som triste
Dolente assiste os seus fantasmas queridos
Solitários, abatidos
A colher flores funestas
Restos de antigas festas
Escombros, faustos falidos
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