Dia Negro
Dia negro e vermelho
Para onde olho
Sou cercada pela noite e pelo sangue
A morte me chama
Finita e concreta
O eterno alívio para todos os tédios
O fim da busca
Pelo ausente sentido da existência
Não me diga para ficar
Se não sentirá nenhuma falta se eu me for
Não me segure pelo braço
Se só o que sentirei são seus dedos frios e apáticos
Não peça que eu me apegue ao mundo concreto
Que foi gentil para você e cruel para mim
Deixe que o beijo da noite toque meus lábios
Já que os seus nunca me quiseram
Deixe que me torne de fato
A sombra que sempre fui
Prometo que os sussurros desolados terminarão em breve
Minha coragem se esvaiu
E faz tanto tempo que não sinto nada além do frio
Deixe que os deuses da noite carreguem minha existência mirrada
E volte para perto da lareira,
Não desperdiçando um segundo sequer de seu inverno
Para pensar em mim
Fujo da vida e encontro as asas que sempre desejei
Não sou carne, sou poesia
E esse mundo de carne e cobre
É tão cansativo para mim
Deixe-me a sós com os sonhos da noite
E prometo que me esforçarei
Para não levar comigo para o além
Minhas memórias de você
Sou um fantasma agora
E as lembranças são privilégio dos vivos
A noite cai
Sinto seu hálito frio, sombrio
É quase como um abraço
É quase como voltar para casa
Sou sofrer, sou querer e não ter
Não sou feita para sorrir
Pegarei carona na cauda dos ventos de inverno
E voltarei para a casa do sono eterno
A vida não passa de um ruído incompreensível
E eu não tenho nada além da poesia que sou
A única coisa concreta que já tive
Era uma máscara
E agora abro as asas
De volta ao abstrato onde nasci
Não sou luz, sou trevas
E tenho tanto calor quanto qualquer morto
Hoje não é um dia para sorrir
Hoje é um dia para fechar os olhos
E torcer para que ainda haja um amanhã
Quando tornar a abri-los.