NINFA EM SONO NA RELVA

Dedico-me a observá-la

Em seu plácido sono

Cuidado em madrigal levedura

Seu corpo entregue, lânguido

Em negra gaze, envolvida

Como em verde relva, disposta.

A ventura serena de uma etérea

Dama, de tez tão clara, e, ainda

Mais, assim, adormecida.

Vê-la entregue à navegação

Dos sonhos, é vislumbrar

Num instante mágico

No agora, o que, por meu desejo

Houvera sido, ausente as neves

Da nossa mutua incongruência.

Destarte, mesmo o acaso

De alguns suaves e ternos beijos

Longe das luzes de qualquer ciência

Vê-la assim menina bela

Como antiga boneca de louça

Entregue ao seu próprio levitar

Nenhuma liça, ou mínima ruga

na fronte alva, que lhe turve

O sono fundo. Devolve-me

A crença e a plenitude d´alma

Sem que Deus nenhum me ouça.

E, faz-me ledo entender o porquê

Simulo tanto, o porquê de tanto medo

E porque tanto, a mim eu minto

E de pronto, porque te amo

Ao observá-la, vou velando

O seu doce adormecer

E, em que pese o que mais sinto

Ninfa tormentosa do oceano

Creio que passo a compreender

O desencanto à que tornamos.

Ricardo S Reis
Enviado por Ricardo S Reis em 24/01/2007
Reeditado em 25/01/2007
Código do texto: T357586