NINFA EM SONO NA RELVA
Dedico-me a observá-la
Em seu plácido sono
Cuidado em madrigal levedura
Seu corpo entregue, lânguido
Em negra gaze, envolvida
Como em verde relva, disposta.
A ventura serena de uma etérea
Dama, de tez tão clara, e, ainda
Mais, assim, adormecida.
Vê-la entregue à navegação
Dos sonhos, é vislumbrar
Num instante mágico
No agora, o que, por meu desejo
Houvera sido, ausente as neves
Da nossa mutua incongruência.
Destarte, mesmo o acaso
De alguns suaves e ternos beijos
Longe das luzes de qualquer ciência
Vê-la assim menina bela
Como antiga boneca de louça
Entregue ao seu próprio levitar
Nenhuma liça, ou mínima ruga
na fronte alva, que lhe turve
O sono fundo. Devolve-me
A crença e a plenitude d´alma
Sem que Deus nenhum me ouça.
E, faz-me ledo entender o porquê
Simulo tanto, o porquê de tanto medo
E porque tanto, a mim eu minto
E de pronto, porque te amo
Ao observá-la, vou velando
O seu doce adormecer
E, em que pese o que mais sinto
Ninfa tormentosa do oceano
Creio que passo a compreender
O desencanto à que tornamos.