DESVESTINDO
Hoje torno-te despido,
Daquilo ti vesti.
Retiro a veste da fantasia,
E vejo –te como muitos ao meu redor.
Retiro o véu cálido
E deixo fluir a fria cobertura que de te provém.
A pele que te esconde as vísceras
é a mesma que te esconde espinhos.
Retiro-te o brando som que emancipei em música,
E deixo sair seus silenciosos roncos,
Que profanam contra presença do afeto,
Contra a docilidade do encontro.
Por hora encontro-te na certeza do que tu és,
Sem a candura que o amor solicita,
Sem o tesão que toca
E adere
Cá permito ver-te,
Na vestidura que lhe contorna,
Pois despida estou da vontade de te amar,
Pois os mesmos olhos que voltam,
E não te avistam,
Avistam lá...
Muito longe,lá.