INVERSÃO PARALELA

Se me fosse dada a chance da redenção

Nesse labirinto amargo chamado vida

E meus calos nesse cálice de sangue fanado

Na finda essência em mim derramada,

Meus dias seriam mais sensatos,

Menos tomados de ócio,

Com o ocre das tardes esmaecidas pelo carvão da noite.

Se esta súplica me chegasse mais tolerante

E mais exaurida, nesse vão de ilusões perdidas,

Nas manhãs mais caladas,

Onde o vento só sopra ao contrário de mim,

Onde a chuva só me cai em torrentes,

Eu não estaria mais aqui,

Não estaria murcho como uma folha de outono.

Que deuses das antigas civilizações

Perseguem minha sina?

Meus amálgamas enlameados me ferem

No cerne do meu ventre aberto.

Vejo galhos encobertos com o limo

Da umidade das minhas lágrimas.

E os meus sonhos são meras fitas desamarradas

Dos meus medos.

Se esta linha paralela da verdade acudisse

Minhas lamúrias, talvez, o inverso do branco,

Fosse a tonalidade da minha paz.

Márcio Ahimsa
Enviado por Márcio Ahimsa em 24/01/2007
Código do texto: T356966