INVERSÃO PARALELA
Se me fosse dada a chance da redenção
Nesse labirinto amargo chamado vida
E meus calos nesse cálice de sangue fanado
Na finda essência em mim derramada,
Meus dias seriam mais sensatos,
Menos tomados de ócio,
Com o ocre das tardes esmaecidas pelo carvão da noite.
Se esta súplica me chegasse mais tolerante
E mais exaurida, nesse vão de ilusões perdidas,
Nas manhãs mais caladas,
Onde o vento só sopra ao contrário de mim,
Onde a chuva só me cai em torrentes,
Eu não estaria mais aqui,
Não estaria murcho como uma folha de outono.
Que deuses das antigas civilizações
Perseguem minha sina?
Meus amálgamas enlameados me ferem
No cerne do meu ventre aberto.
Vejo galhos encobertos com o limo
Da umidade das minhas lágrimas.
E os meus sonhos são meras fitas desamarradas
Dos meus medos.
Se esta linha paralela da verdade acudisse
Minhas lamúrias, talvez, o inverso do branco,
Fosse a tonalidade da minha paz.