Nazireu careca
Cortaram-me as sete tranças,
E ainda assim, sigo nazireu;
Fiz cá dezenas de lambanças,
Mas, esquivei-me aos Filisteus...
Uma droga de Sansão profano,
Que privado foi de sua Dalila;
Do amor, vítima, e do engano,
Flecha que sem alvo sibila...
Que adianta abster-me ao vinho,
Como quem esconjura uma praga;
Se o desejo constrói seu, ninho,
E a própria carência embriaga...
Ora uma bela que até assusta,
Outra menos, a que desencanta;
Aquela parece prenda injusta,
Essa falta água pra regar a planta...
A força de um fraco é mui frágil,
E qualquer loque mata a charada;
O muro está gasto pela voragem,
E a hera acaba de ser plantada...