Lembrar...
Lembrar...
Poucos se lembram do Boris Pasternack,
do seu livro e do belo filme Doutor Jivago.
Menos pessoas ainda leram suas lindas poesias – Os Poemas de Lara.
Já esqueceram as perseguições e os sofrimentos que enfrentou,
na Rússia stalinista, onde era proibido pensar fora dos ditames do Partido.
Boris sentenciou: “serei imortal enquanto se lembrarem de mim”...
Reflexão definitiva.
Morre-se e por algum momento alguns se lembram.
Depois, aí sim, fecha-se definitivamente a tumba,
cessam as memórias e se desaparece da história.
Olhem para os cemitérios! Para os túmulos mais antigos! Nas campas nenhuma flor...
Até os nomes vão desaparecendo nos mármores ou nos granitos.
Há uma curta oração, em todas as missas, por aqueles que nos precederam na morte...
Resta a promessa do grande encontro com Ele...
Mas aí é preciso ter fé no abraço que nos aguarda, misericordioso e pleno de amor.
Mas isto é outra estória – ter fé é tão difícil...
talvez até impossível neste mundo em que vivemos.
O mais fácil é desesperar ou deixar, o que mais freqüentemente ocorre,
que apatia conduza o ser consciente da sua impotência pela vida que lhe resta.
Então viva a esbórnia, viva a bebida e as drogas que fazem esquecer o futuro,
(que é o que verdadeiramente assusta e faz sofrer),
não existindo mais o passado. O presente é construído com
mais um gole, uma tragada e o sexo desvairado que ocupa os espaços da mente,
fazendo esta merda de tempo restante passar.
Sigamos assim até o apagar das luzes, empurrando os momentos de qualquer maneira.
O chato é que num intervalo que se faz, para mijar ou comer,
vem alguma recordação que trás consigo uma grande indicação de saudades, de desperdício, de não encontro, de erro e de culpa...
Ao invés de rezar, para um Deus misericordioso, sempre oculto e silencioso,
se corre para a garrafa aberta,
algo real, liquido palpável, bebível,
para o cigarro acesso,
coisa gostosa...,
para o corpo aberto e oferecido que te recebe, sem discussões do por quê,
mas carinhosamente fingido de tesão e até de amor,
para o sorriso debochado, encharcado de lagrimas incontidas,
que por momentos fugazes oferecem uma sensação de plenitude auto suficiente
e até de compressão passageira e de rápida suportável tranqüilidade.
E assim, pouco a pouco, vou entrando na eternidade só,
confuso, exausto e vomitando.
Eurico de Andrade Neves Borba, Ana Rech, março de 2012