Rosário de Contas
Conto as contas guardadas
Nos contos do faz de conta
Canto a dor e a melancolia
No longo rosário de contas
Conto canções plangentes
Delírios da alma aos trapos
Farrapos de cinza mesclados
Vias dos passos passados
Passou assim o tempo breve
Blindando todos os sonhos
Cordões de amor desbotados
Na melancolia esgarçados
Máscaras de verde esperança
Contas das tristes lembranças
Ocultam o oceano de lágrimas
No féretro do amor criança
Conto passos apressados
Na passagem que é miragem
Jardins de outono adornados
No olor das folhas mortas
Adornam as mesas vazias
Os pratos do amor desfeito
Taças trincadas no tédio
Na solidão sem remédio
Conto as dores engolidas
As lágrimas mal digeridas
O silenciar compulsório
Neste existir ilusório
Conto as contas bancárias
De tantas vidas precárias
Destoadas da simplicidade
No apego às vaidades
Interesses deslavados
Contam as pobres quimeras
Muitas almas nas taperas
Dos sonhos desencontrados
Desencontro destas contas
Contos dos mil desencantos
Cântaros curtem a nostalgia
No triste contar da agonia.
(Ana Stoppa)