O construtor de escadas

Vivia de cigarros, um março e meio por noite

Enamorado de estrelas baixas, que vagavam em seu quintal

Insetos incansáveis lhe zumbiam no ouvido.

Já fazia muito tempo que odiava a humanidade...

-São todos tão baratos, inclusive eu.

Neglicenciar sua família gora era trivial.

O tempo lhe ensinou a ser canhestro e desconfiado.

Amou a muitas mulheres em disformes vestidos baratos.

Murmurou que era lenda esse tal de amor.

Sentimento que lhe oprimia a respiração

Dando-lhes pontadas no estomago.

Toda vez que amou alguém sentiu-se um estúpido!

Tudo não passava de um vexame.

Não havia alegria em seu rosto fraco e lupino.

No ócio do amor, aprendeu a construir escadas:

Pequenas, grandes, escuras, baratas...

Como se tentasse assim diminuir a sua pequenez.

Escadas domingueiras, essas tinham um sabor de perdão.

Gostava de faze-las com a luz da lua caindo sobre o seu corpo

No silencio crepuscular da solidão.

Sua vida já não mais reverberava,

Esfomeado e esquálido desejou subir ao céu

Logo parou:

-Estúpidas escadas desprezam-me nesse frio pálido!

Tomado por uma espécie de raiva impotente

Gritou! Mas sua voz enfraquecia a medida que gritava.

Não ousou mais distinguir realidades

Sonolento deitou-se ao chão abraçou a grande escada,

Fechou os olhos e dormiu...

Janaina Cruz
Enviado por Janaina Cruz em 10/03/2012
Código do texto: T3546404
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