O construtor de escadas
Vivia de cigarros, um março e meio por noite
Enamorado de estrelas baixas, que vagavam em seu quintal
Insetos incansáveis lhe zumbiam no ouvido.
Já fazia muito tempo que odiava a humanidade...
-São todos tão baratos, inclusive eu.
Neglicenciar sua família gora era trivial.
O tempo lhe ensinou a ser canhestro e desconfiado.
Amou a muitas mulheres em disformes vestidos baratos.
Murmurou que era lenda esse tal de amor.
Sentimento que lhe oprimia a respiração
Dando-lhes pontadas no estomago.
Toda vez que amou alguém sentiu-se um estúpido!
Tudo não passava de um vexame.
Não havia alegria em seu rosto fraco e lupino.
No ócio do amor, aprendeu a construir escadas:
Pequenas, grandes, escuras, baratas...
Como se tentasse assim diminuir a sua pequenez.
Escadas domingueiras, essas tinham um sabor de perdão.
Gostava de faze-las com a luz da lua caindo sobre o seu corpo
No silencio crepuscular da solidão.
Sua vida já não mais reverberava,
Esfomeado e esquálido desejou subir ao céu
Logo parou:
-Estúpidas escadas desprezam-me nesse frio pálido!
Tomado por uma espécie de raiva impotente
Gritou! Mas sua voz enfraquecia a medida que gritava.
Não ousou mais distinguir realidades
Sonolento deitou-se ao chão abraçou a grande escada,
Fechou os olhos e dormiu...