Amigo do Rei
Quem és tu, que incomodas meus pesadelos?
Não vês que por aqui nada lhe interessas?
Saias enquanto é tempo, antes que eu me aborreça
E junto com meus sonhos, vossa senhoria se apodreça
Eu, caro maltrapilho
Sou o dia que insistes em terminar
Sou a noite que passas sem dormir
Sou a vela que se apaga
Sou a escuridão que lhe assombras
Tu, temido rei
É quem me incomodas
Que tentas em vão me matar
Porque foges de mim?
Não sabes prezado amigo
Que sem teus sorrisos não posso cantar?
Que sem meu brilho não podes dançar?
Vossos olhos eu conheço bem
Brilhantes como a lua
Corrosivos como o sol
Ousas me chamar de amigo?
Se isto fostes
Meu império não terias devastado
Minha alma não terias arrastado
Pro inferno mais feito que a tristeza
Do melhor dos pintores
Mais insuportável
Que a pior das dores
Mentes, desprezível trovador
O Floreio dos meus campos
Com lagrimas de lama enchestes de odor
A luz dos meus seios
Desprovestes de calor
Que culpa posso ter?
Se nem mesmo na mais seca das neblinas
Permitistes meu alvorecer.
Vou-me embora, covarde condenado
Vossa caminhada terminas agora
Sou apenas um servo
Sob autoridade do rei
Fiques tranquilo
Pois até teus pesadelos
Levo comigo