Nau da Desilusão

NAU DA DESILUSÃO

Jorge Linhaça

Arandú-11/05/2005

Icei minhas velas do porto seguro

parti para o mar em dia escuro

Sob auspícios de bom ou mau agouro

Deixando para traz meu maior tesouro

Em águas tranqüilas pensei navegar

Mas logo a tempestade se fez anunciar

As vagas encapeladas a me ameaçar

Em águas revoltas precisei lutar

Para a embarcação não sossobrar

Mas em meio á trubulencia fria das águas

Pensei em alguém que enchí de mágoa

Busquei a luz em meio a escuridão

As velas rasgadas, pela rajada impiedosa dos ventos

Só fez aumentar em mim meus tormentos

Saudade me deu desses teus alentos

A água salgada a entrar pela proa

e invadir sem resistencia o porão

Jogada de um lado a outro á toa

Sossobrou no mar minha embarcação

Ainda logrei encontrar na confusão meu escaler

E atirei-me a ele como se fôra os braços de uma mulher

Deitado estirado no fundo do salva-vidas

Pensei no meu porto-seguro a reclamar guarida

Por fim a tempestade se acabou

O mar antes bravio agora serenou

No horizonte fulgores do arrebol

Os remos tomei e com vigor eu remei

De volta ao porto que outrora deixei

Procurando ao longe a luz do teu farol

A viagem foi longa, veio a fadiga

e eu contra o oceano, simples formiga

Senti os efeitos da insolação

E mais uma vez pensei no meu porto coração

Quando ja parecia de todo perdido

Com a mente confusa e o corpo exaurido

Vi ao longe uma sombra aparecer

Era o cume do farol com sua luz a acender

Meu guia foi no final da jornada

e o mar se fez estrada

E quando rompia no céu a alvorada

Finalmente chaguei ao fim e inicio de minha jornada

Mas ao procurar no meio de tanta gente

Que em meu socorro veio diligente

Percebi ainda que num repente

Que havia partido para sempre

a minha amada

Que por não ter aceitado seu coração

E singrado mares em busca de emoção

Afundei tal e qual minha nau

a Nau da desilusão.