Boneca de Pano
Perdi o brinquedo dentro da insônia.
Eu queria poupá-lo em minhas mãos.
Segurá-lo como se segura bolinhas.
(Aquelas bolinhas que viraram estrelas)
Mas de nada adianta, não consigo.
Busco a infância pelo elo do tempo.
E ela não vem, não, não vem mais.
Mesmo nunca em si seu findar.
Mas, queria muitas bonequinhas.
Aquelas de pentear os cabelos.
Para ocuparem filhos nulos.
Nunca gestados, impróprios, vãos.
No entanto, na mais grave confissão:
queria uma boneca de pano de trança e desleixada.
Não para ser mãe dela, mas para jogá-la pra cima,
para apertar meus dedos em sua cintura;
para gritar, eu então ruim, poder ser ruim.
Ser ruim com quem não se afetasse jamais
E parecesse que me amava eternamente.