TEATRO HUMANO
Represento no sonho, sou outro
Viajo sem pernas (tenho asas)
Meus olhos veem preto e branco,
Sou outro
Sou papel, e corro entre os olhos
Imagem no espelho, brilhante e
Fosco
Conto segredos ao vazio
Que sou eu, um outro
Na paixão sou louco
Corro descalço na praça
Cacos de vidro nos pés
Do palhaço
Riso frouxo da plateia
Deuses em seus pedestais de
Pedra
O fogo na lareira
Umas frutas de plástico
A matar a fome
E o homem pendurado no quadro
De educação ambiental
No silêncio umas máscaras sorriam
Os sonhos lidos por cartomantes
Uns amantes se beijavam efusivamente
E todo desejo era um milagre.
Os pedintes dormiam com fome
Se escondendo em sua ausência
Como uma pele extra
E viam frutos frescos
E manjares para os deuses
E velas acesas a guiá-los
Pela escuridão.
As cortinas se fecham
Os homens são servidos em travessas
Homéricas
O amor é medido em fita métrica
A razão desfila por estética
Pessoas fragmentadas, viram
Réstias
As hóstias são o peso da dieta
As canções amenizam o calor
As hélices são templo de inspiração
As cortinas se abrem, o público aplaude
As velas apagam
As crateras se abrem
As janelas se fecham
As paredes racham
As frutas estão podres
Os homens estão pobres
A carne está flácida
Os carros parados no sinal
Vermelho da imaginação
As lentes aumentam as dúvidas
As línguas fogem das bocas
Fazendo a revolução
As cortinas pegam fogo
As pernas ficam bambas
As lâmpadas se queimam
Os homens se matam
O silêncio vai crescendo
Apagando as luzes da casa
À chave, a porta de cala
Chove quase a não se sentir
a água
as pessoas fogem
as frutas de plástico voltam
viçosas
os olhos grudam no espelho
todos saem de marinheiro
no desfile de carnaval.