TEATRO HUMANO

Represento no sonho, sou outro

Viajo sem pernas (tenho asas)

Meus olhos veem preto e branco,

Sou outro

Sou papel, e corro entre os olhos

Imagem no espelho, brilhante e

Fosco

Conto segredos ao vazio

Que sou eu, um outro

Na paixão sou louco

Corro descalço na praça

Cacos de vidro nos pés

Do palhaço

Riso frouxo da plateia

Deuses em seus pedestais de

Pedra

O fogo na lareira

Umas frutas de plástico

A matar a fome

E o homem pendurado no quadro

De educação ambiental

No silêncio umas máscaras sorriam

Os sonhos lidos por cartomantes

Uns amantes se beijavam efusivamente

E todo desejo era um milagre.

Os pedintes dormiam com fome

Se escondendo em sua ausência

Como uma pele extra

E viam frutos frescos

E manjares para os deuses

E velas acesas a guiá-los

Pela escuridão.

As cortinas se fecham

Os homens são servidos em travessas

Homéricas

O amor é medido em fita métrica

A razão desfila por estética

Pessoas fragmentadas, viram

Réstias

As hóstias são o peso da dieta

As canções amenizam o calor

As hélices são templo de inspiração

As cortinas se abrem, o público aplaude

As velas apagam

As crateras se abrem

As janelas se fecham

As paredes racham

As frutas estão podres

Os homens estão pobres

A carne está flácida

Os carros parados no sinal

Vermelho da imaginação

As lentes aumentam as dúvidas

As línguas fogem das bocas

Fazendo a revolução

As cortinas pegam fogo

As pernas ficam bambas

As lâmpadas se queimam

Os homens se matam

O silêncio vai crescendo

Apagando as luzes da casa

À chave, a porta de cala

Chove quase a não se sentir

a água

as pessoas fogem

as frutas de plástico voltam

viçosas

os olhos grudam no espelho

todos saem de marinheiro

no desfile de carnaval.

INALDO TENÓRIO DE MOURA CAVALCANTI
Enviado por INALDO TENÓRIO DE MOURA CAVALCANTI em 12/01/2012
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