Águas da traída

Et tu, Brute?

(Shakespeare)

Como não hei de chorar

meu amado, amargamente,

se tuas delicadas mãos

cravaste em mim qual presa

nas garras do gavião?

Se ao caíres nos braços

do Ódio e da Inveja

cegamente abraçados,

com o meu sangue

tingiste as esmeraldas

que brilhavam na tua face

de alvo resplendor?

Meu colo de garça,

ergueito de amor por ti,

na pia sacrificial deitou-se

com determinação

ao ver que lançal cruzavas

a linha do deshonor.

E agora que, meu amor?

Aonde irei, bela e jovem,

se os campos do meu trabalho,

queimados da devastação,

percorres em companhia

de quem me queria mais morta

que viva?

Como não derramar

águas de indignação

se, cavaleiro, viste

a jogada astuciosa do cavalo,

e cavalgando selaste

os papéis derrocadeiros

da conspiração?