Petúnias Mortas
Na massa que move poeira da estrada
Chamas apagadas, resquícios do nada
Mortes anunciadas, vidas nubladas
Não queira ser só, desate os nós
Solfeje os dós , domine as dores
Cace o amor, sem eira nem beira
Além dos limites, assim se permita
Viver é fluir, é bem mais que existir
Abrace, amasse, entregue, se apresse
As frutas maduras bem pouco duram
Mel a jorrar, vem o amor lambuzar
Água de cheiro, perfumes de vida
Olor de camélias, vermelho arlequim
Cintila o orvalho no cristal das gotas
Lençóis de cetim reluzem carmim
Enfeitam donzelas nas belas janelas
A esperar por elas, acendam a vela
Caem todos muros diante dos urros
Nas paredes tortas rangem as portas
Que já não importa, se retas ou tortas
Se tem um pavio ou se é curva de rio
Se guardam o profano ou azul oceano
De onde derivam , as vidas à deriva.
Perdidas no fel, no tosco papel
Dos tristes barcos, cinza opacos
Sonhos acabados, já não importam
.
Lençóis revirados de pranto molhados
De amores sepultados, já não importa
Amores adormecem, cerram-se as portas
Fenecem as almas de dor adornadas
Cercadas do olor, das petúnias mortas
Já não importa....
(Ana Stoppa)