Quiçá

Quiçá

maria da graça almeida

Quiçá falássemos da Rosa,

que pela efemeridade das pétalas

tem frágil a aparência e breve a elegância;

quiçá da Chuva de Verão,

que pelo período de precipitação

traz a água tímida, curta, mas benfazeja;

quem sabe disséssemos do Cego,

que, perscrutando a escuridão perpétua,

constrói trilhas e corredores negros,

onde caminha, solitário e indefeso;

talvez pensássemos nos ventos,

que varrem o planeta em corrente perene,

sem entenderem da poeira que nos ofusca os olhos,

sem perceberem os grãos da germinação.

Mas, não. Silêncio! Mudez de vozes e pensamento.

Não diremos nem destes, nem daqueles,

tampouco dos mais reservados sentimentos.

Nuvens acinzentadas empanam os céus

e um engasgo profundo não nos permite

usufruir a fluidez do ar.

Nada dança à nossa volta.

Notas ressoam, não feito música.

São apenas flébeis gemidos.

A poesia entristeceu. Na agonia da esperança,

um poeta morreu. Um Poeta morreu...

Em seu féretro pobre, calado, caminha o Verso,

seguido pela indecisão da Letra,

pela mudez da Sílaba, pela surdez da Rima.

Lágrimas, apenas as da Inspiração,

quando no sumiço do viço

umedece a palidez da Musa,

que desacerta a direção,

que esquece o compromisso...