ALUGAM-SE DOIS CORAÇÕES
Na mente
de quem sempre mente,
quem fala, cala.
Quem cala, fala,
quem sente,
mente.
Foi-se o tempo
em que do quarto
para a sala
existia a tara
Logo cedo,
depois do primeiro bocejo
existia o desejo
Hoje depois de dois partos
homem e mulher
circulam desconhecidos
um na sala,
o outro no quarto
Dois serem que finjem
ser inteiros
quando na verdade
nada são
além da metade
do que um dia
sonhram ser
E assim os dias se passam
Feito pedras envoltas
em arame farpado
descendo rumo a um nada
que parece fadado
a não ter fim
Foi-se o tempo
em que existia amor
Hoje as conversas
nada mais são
que palavras esparsas
uma amarga ilusão
que ecoa no silêncio
de uma vida à toa
sem qualquer pretensão,
a não ser sobreviver à vida
numa casa vazia
alugam-se dois corações