A VIDA BALANÇA

A vida balança, bêbada

sem a lição da aranha

que flutua na teia do

seu corpo:

pernas, ideias de construção

a formar a arte da

tranquilidade,

da idade etérea da razão.

A vida balança, bêbada

como corda sobre o abismo

pendurada pelo niilismo

do verbo:

o peso corrói a cor

imaculada dos reflexos

sonoros

dos poros no agudo da cria.

A vida escorrega, bêbada

como água na pedra

esverdeada de lodo a grudar

a passagem:

as lágrimas caem silenciosas

do vazio nebuloso na placa

sólida

das palavras grávidas de sol.

A vida balança, bêbada

como rio furioso a ignorar

as margens,

opressoras companheiras

que alimentam sua ira

em caudalosa precipitação

A vida balança, ondas de desassossego

no prego frouxo do espelho,

pendurado na outonal folha

das quimeras do jardim...

que bêbado cambaleia

na estiagem do tempo

deixando marcas na fumaça

ilusória da boca da manhã.

A vida balança na corda bamba

do picadeiro

guardando a ânima na chama

lúgubre do candeeiro.

INALDO TENÓRIO DE MOURA CAVALCANTI
Enviado por INALDO TENÓRIO DE MOURA CAVALCANTI em 21/11/2011
Código do texto: T3347364