A VIDA BALANÇA
A vida balança, bêbada
sem a lição da aranha
que flutua na teia do
seu corpo:
pernas, ideias de construção
a formar a arte da
tranquilidade,
da idade etérea da razão.
A vida balança, bêbada
como corda sobre o abismo
pendurada pelo niilismo
do verbo:
o peso corrói a cor
imaculada dos reflexos
sonoros
dos poros no agudo da cria.
A vida escorrega, bêbada
como água na pedra
esverdeada de lodo a grudar
a passagem:
as lágrimas caem silenciosas
do vazio nebuloso na placa
sólida
das palavras grávidas de sol.
A vida balança, bêbada
como rio furioso a ignorar
as margens,
opressoras companheiras
que alimentam sua ira
em caudalosa precipitação
A vida balança, ondas de desassossego
no prego frouxo do espelho,
pendurado na outonal folha
das quimeras do jardim...
que bêbado cambaleia
na estiagem do tempo
deixando marcas na fumaça
ilusória da boca da manhã.
A vida balança na corda bamba
do picadeiro
guardando a ânima na chama
lúgubre do candeeiro.