AUSÊNCIA
Ausentar-se do ápice dos desejos
É renunciar o verdadeiro sentimento
Lutar contra a maré do sofrimento
Na ânsia de tua boca receber beijos.
Buscando no breu alguns lampejos
Anunciando a brevidade da dor
Numa louca tentativa de sobreviver
O frio das lágrimas no rosto a escorrer
Num lugar fétido, úmido e escuro
Onde se esconde a moldura do futuro
E a sepultura do único amor.
Preces apócrifas num triste clamor
Oriundo das nefastas mazelas
Canções cantadas para as donzelas
Que não conheceram o humor
Vivem presas na jaula do horror
Camufladas pelas forças do destino
Abandonando aquele que ama
Alma, fé e oração que proclama
Um fio da negra e podre esperança
Crucificando a rala lembrança
Do tempo que fui menino.
Adormecer nos braços do desatino
Comer as sobras das migalhas
O odor de sangue na navalha
Cortando a carne do peregrino
Saboreando a náusea no intestino
Fazendo pedir o fim das arestas
Responsáveis pela cena dramática
Domado pela situação pragmática
Nos arredores da cidade corrompida
Elo com a realidade distorcida
Presenteado com as fétidas frestas.