O ENFORCADO

Naquela noite pela alta madrugada

o prisioneiro em sua cela dormitava

quando um algoz, cara vendada, ali entrava

dizendo em alta voz que a hora era chegada.

O nosso homem levantou-se angustiado

deitando a mão ao seu colchão humedecido

e com voz cavernosa disse entristecido:

- agarra esta escritura, nela vai meu fado.

De seguida vestiu um largo paletó

e com seu peito aberto caminhou sem norte

p’ lo interminável corredor de nome “morte”

com trémula passada que metia dó.

Desalinhada barba, rosto de alma negra,

de olhos furibundos, gestos agressivos,

era bem o tal homem, d’ entre os mortos vivos,

a fiel imagem do enforcado sem entrega.

Aquele homem que um dia ousou contrariar

a bem organizada força do Ocidente

subiu ao cadafalso, rosto assaz pendente,

para seus crimes com justiça expiar...

Perante a nota de leitura que foi lida

seguiu-se um instante de silêncio e horror

o abismo abriu-se sob o corpo em estertor

ficando ali suspensa aquela triste vida...

Esta justiça foi o exemplo bem gritante

daquilo que os humanos mostram com eventos:

vender a honra por prestígio e por talentos

dá glória e mais poder ao Estado triunfante.

Surgem por todo o lado vozes lamentáveis

uns a favor e outros contra protestando

mais valera que agora fossem observando

em suas vidas gestos e actos igualáveis !

Frassino Machado

In AS MINHAS ANDANÇAS

FRASSINO MACHADO
Enviado por FRASSINO MACHADO em 30/12/2006
Reeditado em 30/12/2006
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