Colapso de Sonhos
Quantos passos ensaiados de felicidade
Quantas expectativas a cada olhar
A brisa do inverno soava sempre esperançosa
A cada novo encontro, a cada novo sorriso
Eu poderia procurar por mil oceanos
Um único motivo além da infâmia
Procure por uma razão em todo o universo
E ainda assim não poderia tirar-me tamanha lama
Infinitas noites seriam insuficientes à minha tortura
Porque meu mundo também ruiu, é verdade
Quando achava ser o arquiteto da dignidade
Apenas veneno destilava nos jardins de muitos sonhos
Os domínios da noite já não posso adentrar
Repulsa-me fortemente o encontro com a consciência
Tenho apenas a insônia a corroer-me os olhos
Porque oceanos de lágrimas cobram-me o repouso
Monstros saídos de recônditos abissais
Seres que refletem uma natureza que recuso facear
Veio-me a vida, a maior das armadilhas
Desencadeando rebeliões que mesmo anjos não podem conter
Porque seu cheiro ainda vagueia-me a memória
Porque sua ausência ainda atormenta-me o viver
Assim, o fogo já não é uma conquista
E por isso o tempo já não é uma dimensão
E o remorso de mim mesmo rasga-me o mundo
A um juramento de resignação resume-se a vida
Pois a brisa do inverno já se foi em meu ímpeto
E a noite somente resta-me em companhia
Porque nada mais que isso é o que mereço
Porque tudo isso é nada ante o que semeei
Pois imensurável é a dor a cortar-lhe o peito
Impossível é desfazer o mal da ruptura das noites