Cântico ao Nino
Sentado ali no banco, olhando o nada
Seus cabelos brancos pareciam extensão dos dentes
Tinha medo dele na minha meninice
Ele falava sozinho. Psychein. Sei lá não sei...
Com as mãos dobradas em forma de conchas sobre o ouvido
Ele ficava quieto, e, eu, assustada!
Aqui em casa aprenderam a respeitá-lo
Vovó o acolhera no porão.
Você já pensou: “No porão?” Não era qualquer porão...
Tudo lá cheirava limpeza.
Com as mãos dobradas em forma de conchas sobre o ouvido
Ele escutava o mar, e, eu, o nada!
Um dia ele acordou febril
Como se estivesse sentado na linha do equador.
Surtou e eu chorei de medo...
Ele, como um espadachim cutucava o vazio
D. Quixote pensei e fiquei ali ao seu lado
Ele lutava com o vento, e, eu numa cruzada!
Canto, louvo o passado em que lá estive
Chronos nem tinha devorado seus filhos, ou, será que tinha?
O futuro devorou sem piedade o presente...
Alexandre da Macedônia escutou seu mestre Aristóteles
“Você deve estar disposto a pagar o preço!”
Ele lutava com exércitos, e, eu ali, sentada!
As horas o comiam e ele ficava velho
Seus neurônios iam um a um sendo comido por medusa.
O presente soluçava em seu pescoço enrugado. Velho...
Nino foi assim apagando feito luz de natal, depois, que ele passa...
Morre as cigarras levando junto o canto,
Ele deixou um vazio na alma de todos, e, eu, abandonada!
Nino de fato existiu e morou no porão da vovó Irene e nos deixou marcados com a sua loucura sábia...