POR DETRÁS DO VIDRO ESPELHADO

A garota brincava

com sua própria imagem

no vidro espelhado

de um hospital.

Tinha os olhos radiantes,

mostrava a língua

desatava num riso mudo

porém verdadeiro.

Eu contemplava-a do outro lado

onde havia uma ficha

que me dizia da inevitabilidade

de sua breve morte

Ela não podia me ver

ocupada estava em preencher

seu vazio de morte com brincadeiras

tão vãs ao meu ver, tão completo à ela

Não tive coragem de desiludir

seu jovem coração criança

que tinha no mínimo uma paz

na alegria uma esperança

Que em nada mudava o fato de haver

do outro lado do espelho um ser

que sabia da sua morte e se ria

da ilusão com a qual morria e não sabia.

(Do Livro "Para Ninguém")

Diego Duarte
Enviado por Diego Duarte em 28/10/2011
Reeditado em 25/02/2013
Código do texto: T3303048
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