POR DETRÁS DO VIDRO ESPELHADO
A garota brincava
com sua própria imagem
no vidro espelhado
de um hospital.
Tinha os olhos radiantes,
mostrava a língua
desatava num riso mudo
porém verdadeiro.
Eu contemplava-a do outro lado
onde havia uma ficha
que me dizia da inevitabilidade
de sua breve morte
Ela não podia me ver
ocupada estava em preencher
seu vazio de morte com brincadeiras
tão vãs ao meu ver, tão completo à ela
Não tive coragem de desiludir
seu jovem coração criança
que tinha no mínimo uma paz
na alegria uma esperança
Que em nada mudava o fato de haver
do outro lado do espelho um ser
que sabia da sua morte e se ria
da ilusão com a qual morria e não sabia.
(Do Livro "Para Ninguém")