CRIMES SEM PUNIÇÃO
I
Choviam cães e gatos, rude estrago,
sobre a cidade mártir que ansiava -
noite calma, na calma Santiago,
ouvir a voz de Allende que esperava.
Os trovões da natura em modo vago
deram lugar ao fogo que iniciava
sobre o Palácio deste mesmo orago
um facto vergonhoso que chocava.
Subiram o escadório com desmando
os brutos legionários camuflados
cumprindo bem as ordens de comando...
Mas, eis, que a porta se abre de repente
e surge o maioral em altos brados:
- Quem desligou da rádio esta corrente ?
II
- Ó desgraçados serviçais incompetentes,
quem julgais vós que sois, meus tristes ordinários?
- Somos de Pinochet os justos mandatários...
E a voz do sangue massacrou os inocentes ...
Vinte e tal anos se passaram sobre as gentes,
num Chile tão semeado de massacres vários
por vis razões de governantes e falsários
que ao mundo deram testemunhos indigentes.
Encarregou-se o tempo de fazer memória
e foi possível ao tirano lançar mão
p' ra que um humano julgamento fosse história...
Mas, ó humana e lamentável condição,
ó tristes maiorais com alma acessória,
como é que tal tirano morre sem punição ?
Frassino Machado
In AS MINHAS ANDANÇAS