Luzes Do Centro
As luzes do centro já não me parecem tão bonitas, meu amor se foi.
Já chorei demais,
já está na hora de virar homem.
Vou enfrentar, dessa vez.
O dia amanhece,
e traz um novo tocar do despertador.
E, hoje, prometo burlar as leis,
fazer tudo que tiver vontade,
vou do mínimo ao máximo,
do manso pro rápido,
de 50 a 150 na minha Hilux.
E talvez colidir com um caminhão
pra dormir no hospital
só pra assediar a enfermeira.
Vou fazer sexos vazios,
gozo pra que se acabe.
Se apaixonar não é mais uma tarefa…
é algo improvável.
Vou levantar da cama,
e enfrentar essa chuva ácida.
Fazer tudo o que devia ter feito.
Vou experimentar daquilo que tive medo,
desde daquela sua droga de merda
que já me ofereceu,
até a que eu espero que me vicie.
Pois hoje,
meu pior vício vai morrer.
Nunca mais quero sentir seu cheiro,
e sua essência
vai embora com o ardor dos meus malboros
que vou acender.
Vou viver de tudo um pouco.
Vou andar na rua
e cumprimentar os velhinhos,
com cuspe na mão.
Vou ferir toda a experiência.
E dar um cale-se
pra esses
babacas de terno
que aparecem na televisão.
O silêncio,
a pausa do tempo pro absoluto
despencar no abismo escuro.
o perfeito estado de sensatez.
Vou me embriagar
com todo o resto de Jack Daniel’s.
Apunhalar-me num harakiri
intenso e vagaroso.
E, mãe, não ofereça sua mão,
meu sangue vai jorrar
e eu vou me satisfazer.
Será tudo com prazer e cautela.
Vou abrir minhas guitarras
e tentar consertá-las.
Vou jogar fora meu acordeon.
Depois, talvez, eu cante…
Tentar esquecer o seu rosto
e abrir um sorriso,
um belo sorriso,
com meus dentes amarelados.
É isso que o conformismo traz.
Vou escrever seu nome
na parede do hotel,
e se eu chorar,
virá a responsabilidade.
Junto vem uma maturidade,
um saco cheio do que
eu não quero ver,
nem ouvir.
E não ouço,
a burrice,
a infantilidade,
a falta de coragem,
me tem tirado da rota.
A idéia da troca se tornou invasiva,
e meus anseios sublimes,
se tornaram um pesadelo.
Então, foda-se.
Vou ser eu por hoje.
Só por hoje.
Vou tirar sua foto da carteira,
e minha vontade de vomitar
vai passar.
Os que morrem
pra outros nascerem.
O medo de não ser feliz.
Porque é com tristeza
que eu me inspiro
E hoje não quero escrever uma linha do meu livro.