Quanto Vale a Poesia?
Cidade Nova, 01 de dezembro de 2007.
Um centavo, talvez menos…
Um bom escritor, romântico, audaz,
Tramas obscenas, verídicas, vale milhões!
Uma boa música, rimas de mercado,
Pouco conteúdo, técnica perfeita,
Hipnótica, vale o peso em ouro.
Se for esportista talentoso, rios de dinheiro.
Ah, na sociedade se é bom tem valor?!
Vale grifes caras, importados, sair da pobreza,
Ostentar as estrelas, vale os flashes,
Vale ambição, consideração, respeito!
Só poeta nada vale. A poesia vive nos guetos
Da arte, sobrevivendo de restos, embriagando-se,
Dopando-se, rememorando as glórias de Sião,
Exaltando Vênus, desejando Afrodite,
Clamando por Minerva, por Jesus.
A poesia será arte ou será lixo?
Se é arte, por que morremos famintos?!
O burguês tenta, coloca a poesia na gaiola,
A arte vira brisa, então cessa o vento,
Transmuta-se-a em luz, arco-íris. A poesia
Libertina, afasta-se da religião e com Baco
Deprava-se num cabaré à beira de pista,
Acorda de ressaca e cai como chuva no sertão.
A poesia é o espirro de Deus após a criação,
É o olhar infante maravilhado diante dos pais,
Poesia é o extremo da saudade, é o palpar
Concreto da máxima realidade, o amor, o tênue
Começo de tudo, o limbo e a sombria eternidade.
Poetas morrem de fome, de desgosto,
São chacinados no coliseu, confinados
Em campos de concentrações. Poucos,
Bem poucos, elevam-se num sedento desejo
De Átila e estraçalham às barreiras com
O código dos Samurais; poucos se erguem
Da maldita sina e como Gengis Khan vencem
Aos demônios internos.
Ah! entendi, não podem dominar a poesia,
Por isso vale tão pouco: a religião, a burguesia
E os políticos não encontram nela um aliado.
A poesia leva ao autoconhecimento que leva
A verdade mais sincera, por isso é decretado:
Pouco vale a poesia, um centavo, talvez menos!
Autor: Paulo Sérgio AF