ARQUIVO

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Carmo Vasconcelos

Tanta letra posta ao canto,

Tantos motes, tantos fados…

São agora encarcerados

No arquivo morto de espanto.

Tantas palavras escritas,

Tantas horas de emoção,

Vivem hoje em reclusão

Tal como amantes proscritas.

Tanto enlevo acalentado,

Tanto enlace em poesia,

Odes de fogo e euforia,

Verbo agora amordaçado.

Tanta noite sem cansaço,

Tanto mimo, tanto beijo,

Hoje são findo cortejo

Interditado no passo.

Tanta memória no vão…

Tantos megas, tantos gigas,

Lembram castradas espigas

Nunca chegadas a pão.

Tanta semente lançada,

Tanto regadio de encanto…

E desse lavrado tanto,

Deu campo arado de nada.

Tanta sílaba gritada,

Tanta mágoa no dilema,

Destruíram o poema,

Virou trova amargurada.

Mas ao rodar esse arquivo

E a laje que o sepultou,

Uma lágrima tombou

Ao ver que o cerne está vivo.

***

Lisboa/Portugal

11/Setº/2010

***

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Carmo Vasconcelos
Enviado por Carmo Vasconcelos em 25/08/2011
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