O inverno da alma
A geada no sul do mundo bafeja ameaças,
ameixeiras nem aí, estão rindo em flor,
o sopro polar ainda acaricia os campos,
laranjeiras expões seus projetos,
como se nem precisassem calor.
O vento nas brancas melenas invernais,
e alados nidificam cantando à primavera,
preparam a chegada da prole inda dormida,
empilham tijolos louvando a vida,
leve o tempo flui, em festiva espera.
A natureza desconhece o pessimismo,
aposta que seu ciclo é sempre certo,
nem lembra bodoques e motosserras,
avança confiante no colo do tempo,
embeleza de vida, desfaz o deserto.
O diabo é que a alma é sobrenatural,
marcas de pedras e foices cruzam o tempo,
geadas antigas inda tolhem os brotos,
aguas passadas girando o moinho,
moem esperança e formam o desalento.