Estrela guia
Eis o amor de cara com a antítese,
Tendo que ver o que não queria,
Sol e planta sem fotossíntese,
Contra a natureza, quem diria,
Vida abusa do poder de síntese,
Três desenganos no mesmo dia.
A dor busca uma melhora estética,
No salão de beleza da poesia;
Esconde o sangue na tirada poética,
Cá pra nós, eu também esconderia,
Mesmo a verdade ficando esquelética,
Numa aguda crise de anorexia.
Nesse inelutável atoleiro trágico,
Qualquer que amasse atolaria,
O fado e seu truque, garboso mágico,
Serrando ao meio a hipocrisia,
E o sonho, em seu labor autofágico,
Consumindo as últimas calorias
Os três tombos que citei no início,
Da escada, da cama, e da fantasia,
presumir virtude na morada do vício
ao bom siso o desejo insano iludia
forjando um mendigo, rumo ao hospício
tendo a amargura por estrela guia