OUTRÉPOCA
Lentamente desvanece as mãos
Que outrora magistrais se erguiam a ferir o ar...
Lentamente desfaz-se o sorriso das faces
Agora taciturnas pelo enfado que vida traz...
Os olhos tombam-se de uma diversidade
De cores livres, mas sem sentido...
Todas hão de render-se ao embaço do tempo pai...
Os passos que em "outrépocas" apressados se faziam
Entregam-se a lentidão monótona duma derradeira caminhada...
E de forma igual as galhofas, as piadas, a Energia,
O entusiasmo, os amores, os dissabores,
As canções, as discussões tudo emaranhar-se-á
Nas teias finas das recordações... tão frágeis,
Tão serenas, que nessa humana propensão
Terrena toda alegria constituir-se-á não em viver,
Mas em reviver as vidas que vivos não as temos...
E "em permanecer ou passar", Em "ser ou não ser”...
E viver ou morrer... haverá sempre Shekespeariana a questão:
"De não se saber o que nos espera noutra dimensão”...
E o medo covarde ainda aqui prisioneiro há de nos ter.