CEGUEIRA MÚTUA
C E G U E I R A M Ú T U A
Uma história de vagos resquícios de amor
No meu entender estamos dispersos
Nosso riso desdenha do mundo
Adeja uma sombra negra entre nós
Tornamos-nos transparentes, quase invisíveis
Aproveitamos nossa cegueira mútua
Para nós amar é enfadonho
Teimosamente estampamos ira
Antes nos embriagávamos na seiva da vida
Nossas palavras soavam em harmonia
Outrora andávamos sozinhos
No presente, estamos mal acompanhados
Até aqui fomos regidos pelo rancor
Fazes ironia com indiferença
Atropela tudo por desleixo
Querias sempre ser o centro
Somos prisioneiros do tempo passado
Estamos agrilhoados pelos pulsos
Respiramos miasmas de cemitério
Porém somos telhados de senzala
Um vagabundo se faz presente: EU
Minha garganta teima em não dizer seu nome
Reconheço em teus olhos escárnio
Reverbaras não luz, trevas
Fúnebre é o caminho que percorremos
Habita em nós a quietude das paredes
Estamos sós de mãos dadas com o vazio
Sonhamos com dias de júbilo
Nas horas de maior imaginação: descaso
Minha memória é diluída: inexisto!
Finalmente a completa vertigem: nada...
Porém estou ausente: talvez morto?
(abril/1999)