DEIXE-ME SÓ

Por que aparecer a mim

como se sonho?

Não te inibe minha incapacidade

de amar

flor seca pela torridez do tempo?

Por que me inebrias então?

És doente,

sádica como um governante?

Por que amanhecer meu viver?

Já estava aconchegante a noite

vida escura

Tens a cura

ou és copo vazio fluorescente?

Sou fraco, sei da carne

Não refresque minha mente

já carcomida

ressecada como braço sem força

Não acorde-me para um dia

que não pode sobreviver à luz

às mãos

aos abraços

(são todos efêmeros)

Deixe-me só

tire os olhos como ímãs

dos meus:

as flores do jarro são de plástico

o espelho é uma máscara

as marcas no chão são de ontem

Quero a noite, prefiro

é minha vida

o escuro me deixa igual

pardo como um gato

e subo nos telhados a gritar

no cio

sem ultraje nem estereótipo

Já sou muitos e não há

mais salvação

(alma sem fertilidade)

Deixe-me só.

INALDO TENÓRIO DE MOURA CAVALCANTI
Enviado por INALDO TENÓRIO DE MOURA CAVALCANTI em 04/06/2011
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