DEIXE-ME SÓ
Por que aparecer a mim
como se sonho?
Não te inibe minha incapacidade
de amar
flor seca pela torridez do tempo?
Por que me inebrias então?
És doente,
sádica como um governante?
Por que amanhecer meu viver?
Já estava aconchegante a noite
vida escura
Tens a cura
ou és copo vazio fluorescente?
Sou fraco, sei da carne
Não refresque minha mente
já carcomida
ressecada como braço sem força
Não acorde-me para um dia
que não pode sobreviver à luz
às mãos
aos abraços
(são todos efêmeros)
Deixe-me só
tire os olhos como ímãs
dos meus:
as flores do jarro são de plástico
o espelho é uma máscara
as marcas no chão são de ontem
Quero a noite, prefiro
é minha vida
o escuro me deixa igual
pardo como um gato
e subo nos telhados a gritar
no cio
sem ultraje nem estereótipo
Já sou muitos e não há
mais salvação
(alma sem fertilidade)
Deixe-me só.