SÓ
sinto-me só, qual barco à deriva,
neste mar de gente inquieta, apressada,
que se movimenta de olhar perdido,
indiferente ao mundo que a rodeia.
à minha volta, sem pudor,
vejo pulular interesse, mesquinhez,
ambição, frieza, arrogância,
vaidade, presunção, maldade!...
vejo pisar as flores, indefesas,
crescer o desprezo pelo direito...
à vida, pelas crianças,
ao trabalho por jovens e adultos,
à tranquilidade dos velhos,
esquecidos depois de usados....
mas é em vão que levanto a minha voz!
há ironia no olhar de quem me ouve...!
e eu, só, no meio da multidão,
sinto-me triste e desiludida
por tantos destroços que me cercam...
empurram-me de todos os lados
como um objecto inútil, enfadonho...
os meus olhos reagem à desilusão
provocada pela queda dos castelos
que outrora povoaram meus sonhos...
sem resignação mas
por instinto de sobrevivência,
afasto-me, só, melancólica,
perguntando sem falar
a razão deste ostracismo...
onde foi que errei
para assim o merecer?...
e vou seguindo, só,
vagueando pela Vida!