Na festa
Eu não me encaixo nos circulos sociais, e fico no canto
e canto o inegostavel martírio da desgraçada sociedade
ao querer chamar de humano toda falta de humanidade
e fico sensivel à forte dor de todo o agudissimo pranto
Eis aqui o meu conselho: no meio da festa exorbitante
fique sempre guache no seu canto, não fale nem cante
e reprima com toda a sua força a lágrima que quer cair
ninguem precisa saber o quanto que tú sofres, depressivo
nem como, ainda hoje, dói no corpo ter passado pelo crivo
pois todos já sabem bem e temem uma prova do porvir
Não chegues nem a pensar em sair, pois é ficando na festa
que com toda esta sua íncrivel resistencia você vai e atesta:
mesmo sem querer, podes viver neste meio inteiramente falso
quem sabes esses seus musculos podem simular alguma dança
para que o ato teatral esteja perfeito, dê um sorriso a criança
e como é apertado o sapato social que, mesmo assim, calço!
De repente arde as fibras musculares do meu seio
pois percebo, com a iris úmida, que você não veio
para as celebrações do dia mais importante do ano
em qual coordenada geográfica podes estar, Madona?
tú prometeste chegar na minha festa e me abandona
por isto sorrio quase pela metade, no total desengano
Sim, tenho aqui o meu bolo e este pré-pronto discurso
mas levo a taça de vinho acre para o seu devido curso
para as palavras que não importam, pois não as escuta!
Quero me sentar e beber resto da garrafa mas não deixam
“tú estas quase quebrando a liturgia da festa”, se queixam
por isto falo da minha passada vida e da variada, inútil luta
Mas, là no fundo, eu sei que ainda agora deve estar
a minha índole romântica amargamente a se queixar
que não vieste colher uns poucos frutos de minha vida estéril
minha distração é tão grande que quase bebo um vinho etério
Isto percebo, me sento e respiro com dificuldade
vou falando mal com alguma rarríssima visita
lá me vem a conhecida voz, interna e maldita
me perguntando “onde estará tua amada beldade?”