INDIFERENÇA
A tua imagem estática e silente
Me impressiona por tanta frigidez,
Sem entender o fim iminente
Que me dissera a tua mudez.
A tua luzídia pele marmórea
Que repousam os pós da rua
E inerte sob a luz da lua
Que observa tua forma corpórea.
O dia tem só vinte quatro horas,
Mas para ti tem algumas semanas;
O teu silêncio fere como esporas
Pois sou feito de células humanas.
O meu fado vive em desvario,
Por que não me dizes o que queres?
Pois de ti meu ser não desvio
Esteja aonde estiveres.
Se ruflam as tuas asas no vento
Me afasta mais de minha ternura
Que voa de mim pensamento
Sobre a possibilidade futura.
Como a enxurrada, fortes águas,
De amargura por teu descaso,
O amor se convertendo em mágoas
Que já se aproxima o seu ocaso.
(JORÃO BENTO)