INDIFERENÇA

A tua imagem estática e silente

Me impressiona por tanta frigidez,

Sem entender o fim iminente

Que me dissera a tua mudez.

A tua luzídia pele marmórea

Que repousam os pós da rua

E inerte sob a luz da lua

Que observa tua forma corpórea.

O dia tem só vinte quatro horas,

Mas para ti tem algumas semanas;

O teu silêncio fere como esporas

Pois sou feito de células humanas.

O meu fado vive em desvario,

Por que não me dizes o que queres?

Pois de ti meu ser não desvio

Esteja aonde estiveres.

Se ruflam as tuas asas no vento

Me afasta mais de minha ternura

Que voa de mim pensamento

Sobre a possibilidade futura.

Como a enxurrada, fortes águas,

De amargura por teu descaso,

O amor se convertendo em mágoas

Que já se aproxima o seu ocaso.

(JORÃO BENTO)

JO BENTO
Enviado por JO BENTO em 26/04/2011
Reeditado em 19/12/2012
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