Sinceridade Gelada
Não fique aqui
Esperando que minha espada o dilacere
Para sua alma deixar o lugar
Onde sequer devia estar
Não espere por mim
Eu não serei gentil
Não direi o que quer ouvir
Não trarei nada além de gelo e indiferença
Pouco resta senão um rio de fúria
Onde desembocam as cabeças decapitadas
Não me importo caso se junte a elas
Mas ainda há tempo para fugir
Vire seus olhos para quem quer vê-lo
E pare de perseguir portas trancadas
Sonhe os sonhos que quiser
Mas deixe-me fora deles
Pois não quero que me guarde em sua memória
De um jeito que não sou
Para evitar equívocos,
Me esqueça
Antes que o veneno do meu verdadeiro eu
Corroa suas entranhas despreparadas
Se acha que estou sofrendo
Olhe para trás apenas por um instante
E trema com o meu sorriso
Eu que já sou incapaz de sofrer por mim
Não sofrerei por ninguém
Muito menos por quem não merece
Sou cruel o bastante para fazer o que tem que ser feito
E orgulhosa o bastante para não voltar atrás
Mas decidida o bastante para seguir em frente
Não é como se faltasse algo
São apenas as peças se encaixando novamente
E eu não tenho medo do adeus
Por que hesitar ao largar o que não é importante
Quando um futuro de desafios me espera?
Se eu tiver que ver sangue, que seja
Se tiver que derramá-lo, estou preparada
Não sou mais uma criança
E não fugirei da guerra
Desde que se apresente
Um inimigo digno de portar esse nome
E não apenas algum louco desesperado
Gritando desafios inúteis ao vento
Pensando que me atingiria
Errou o alvo, de qualquer forma
E não perderei tempo tentando entender
Os momentos de confusão se foram há muito
A verdade é só a verdade
Não há enigmas por trás
Não há interpretações ambíguas
Uma espada significa guerra
E o sangue escorrendo significa morte
Ninguém desembainha a espada
Para falar de amizade
E ninguém derrama sangue
Como sinal de perdão
O fim é só o fim
Não há enigmas por trás
Não há atalhos ocultos para um retorno utópico
Há só as palavras decididas
Denotativas
Sem metáforas que as tornem ilusões
Indiferença é só indiferença
E não há enigmas por trás
Não é como se quisesse testá-lo
Não é como se quisesse testar-me
Conheço meus limites
E não me importo com os seus
Adeus é só adeus
Não há enigmas por trás
É uma despedida eterna
Tão fria quanto um castelo de gelo
É um sonho rasgado
Que dá lugar a outros sonhos
É a faca que imola quimeras
Que jamais deveriam ter nascido
Se minha sinceridade me torna cruel,
Que seja eu a cruel
Se minha indiferença me torna fria
Era esse o ponto
Não é como se eu precisasse fingir
Porque o jogo já acabou
E não há necessidade de blefes
Eu queimei todas as cartas
Começando pelo curinga
Mestre da ilusão
Todas as cartas e ao mesmo tempo nenhuma
A solidão é só a solidão
E talvez alguns enigmas
Esquecidos para sempre
Em algum lugar escuro do coração