A ganância do homem...
Cavar a terra com o coração
A intenção é achar algum sobrevivente na destruição.
Vejo a ocupação sempre desordenada.
Quem poderá inverter essa situação?
São castelos construídos na areia
Onde a forte chuva serpenteia.
Cadê você?
Não feche os olhos,
Não tape os ouvidos...
Sinto o cheiro de terra, de barro, de esgoto...
De pedras “no cenário de Guerra”.
Estou apenas lembrando, se quiser pode ver.
Sinto o cheiro de lágrimas,
Escuto um choro onde muitos ergueram casas de pau a pique
Ou de tijolo.
Cadê o poder?
Cadê aquele que se intitula público?
Que disfarça e finge não nos ver?
Olhei na janela e vi um cidadão deixar de comer o pão para alimentar o filho.
Eu vi gente sonhar com um emprego no amanhecer do dia.
Vi gente sonhar, construir e investir.
Vi um cidadão nordestino trabalhar, lutar por uma vida melhor
Conseguiu fazer sua casa no morro... E quando choveu... Morreu soterrado.
Vi gente sentir medo, guardar segredo...
E de repente ver tudo acabar.
Vi corpos machucados,
Sujos de terra e de barro,
Serem carregados enrolados num saco plástico
À espera de alguém para enterrá-los.
Sabe o que é isso?
É gente.
São seres humanos, que agora estão embaixo da terra
E que da morte não puderam escapar.
Eu só estou aqui para lembrar.
Sorte ou azar?
Dinheiro na cueca, na bolsa, na meia, o que mais irão aprontar?
Eu apenas vejo o que você também pode ver...
Basta querer.
(Débora Moreno)
Do livro :Sapatos do tempo