Desabafo de um professor
Estou cansada de caminhar descalça
Sobre pedregulhos e espinhos
De procurar abrigo em cavernas
E encontrar serpentes no meu caminho.
Sim, estou cansada de precisar sangrar
Todos os meses, todos os dias,
Derramar meu suor em causas perdidas
Viver sem motivação e alegria.
Estou cansada de batalhas intermináveis
De matar dragões para sobreviver.
Estou cansada de apenas sobreviver...
Sem nunca ter experimentado dias agradáveis.
Estou cansada de carregar uma cruz que não me pertence
De acreditar que dias melhores virão,
Esperar mudanças que nunca acontecem.
Estou cansada de confiar em pessoas que me trairão.
Sim, eu estou cansada! Cansada!
Cansada de falar com surdos
E perguntar o caminho certo para cegos,
Cansada de tantas injustiças e absurdos.
De ver o errado tomar o lugar do certo
Acreditar que amanhã será diferente
E as recompensas virão embrulhadas
Com fitas e um belo papel de presente.
Estou cansada, Senhor!
De abrir as mãos para receber castigos,
Acatar decisões com as quais não concordo
Baixar a cabeça e calar mais um grito.
Cansada de dar o outro lado para quem feriu minha face
Ver minha esperança pouco a pouco desaparecer
Chorar ao perceber que não posso dar jeito
E saber que minhas lágrimas não vão resolver.
Oh, Pai! Estou cansada de dizer isso!
Cansada de dizer que estou cansada
Levantar cedo e seguir uma rotina que não gosto
De passar o dia reclamando da minha desgraça.
Estou cansada de sempre me engasgar
Com as verdades que travo na garganta
Sorrir de piadas repetidas e sem graça
Seguir em frente quando já não adianta.
Cansada! Sinceramente muito cansada!
Cansada de receber a culpa por tudo dar errado
Apoiar e instruir pessoas que me criticarão
Ser apunhalada por aqueles a quem ofertei um abraço.
De me queixar de feridas que não saram
Correr atrás de um sonho que me deixa exaurida
Buscar soluções para dúvidas milenares,
Viver encurralada num beco sem saída.