A FELICIDADE NÃO EXISTE
A tara não passa de farra
o tédio da vida escarra na cara
um velho se fazendo de moço
enquanto o gozo que cessa
tal qual a última gota do soro
monotonia na veia
corpos andam arrastando suas sombras
como se estivessem esperando o inevitável fim
num mundo em que a sinceridade
virou qualidade
bandos de hipócritas fingem se importar
o amor só existe para os tolos
que em tudo acreditam
eu não confio em pessoas que confiam em todo mundo
o povo é um bando de acéfalos
contentam-se com qualquer porcaria
vivem suas vidas vazias
e ainda são capazes de estampar sorrisos
em suas faces miseráveis
e quando chega o carnaval
com suas alegorias plastificadas
os tontos desfilam suas idiotices
destiladas em suor fétido, cerveja barata,
bundas e peitos falsificados,
financiados pelos cornos
que afinam seus chifres mundo afora
confesso: estou desiludido
a vida tornou-se um fardo
algo para ser suportado
nada para ser vivido
tenho nojo das pessoas de sorriso fácil
que andam por aí como se a vida
fosse um paraíso
tenho ódios dos casais que tentam nos enganar
com suas canastrices teatrais
representam uma felicidade que não existe
a felicidade não existe
não nascemos para ser felizes
nascemos para sermos servos
servos da opinião dos outros,
servos dos preconceitos,
servos da inveja,
tenho ódio das madames
que gastam o dinheiro de seus maridos trouxas
e ainda falam mal dos desgraçados
enquanto cavalgam em cima do personal trainner
com seus cabelos louros importados do Paraguai
andam por aí como se fossem princesas
pro inferno todas elas
e os seus anseios de igualdade
nem eu me aguento mais
tenho ódio daqueles que fingem se importar comigo
mas na verdade nem lembram que eu existo
pensando bem, não valho o suficiente
para merecer um mísero rastro de atenção
sou vago, sou raso, mentiroso,
sou vazio, narcisista e egoísta