Ariadna
Esta noite tão amarga
Em que minha dor floresce,
Minha mão não treme ao escrever
A lembrança do que foi nosso amor.
Começou como todo amor,
Bem pequeno.
Depois cresceu demais
Até chegar ao cume,
E aí, sem definhar,
Caiu de repente
Sem explicação.
Não tive tempo de magoar-te
Não tive tempo de arrepender-me.
Quando vi, estava embaixo,
Pela tua mão descartado
Como um objeto usado,
Sem saber o acontecido.
Tua crueldade inexplicável,
Tuas mentiras inúteis,
Isolavam-te no teu mundo,
Teu mundo irreal,
Que ingênua pretendias,
A todos vender.
Será que não compreendias
O papel que fazias?
Fiquei aqui, ferido;
Até compreender que fui
Apenas mais um, na tua lista.
Depois não chorei mais,
Ao perceber que não eras
O que eu pensava.
Não eras...
Uma senhora.
Novembro, 1971.
Montevidéu
*******
Páginas da Memória, livro inédito