Ariadna

Esta noite tão amarga

Em que minha dor floresce,

Minha mão não treme ao escrever

A lembrança do que foi nosso amor.

Começou como todo amor,

Bem pequeno.

Depois cresceu demais

Até chegar ao cume,

E aí, sem definhar,

Caiu de repente

Sem explicação.

Não tive tempo de magoar-te

Não tive tempo de arrepender-me.

Quando vi, estava embaixo,

Pela tua mão descartado

Como um objeto usado,

Sem saber o acontecido.

Tua crueldade inexplicável,

Tuas mentiras inúteis,

Isolavam-te no teu mundo,

Teu mundo irreal,

Que ingênua pretendias,

A todos vender.

Será que não compreendias

O papel que fazias?

Fiquei aqui, ferido;

Até compreender que fui

Apenas mais um, na tua lista.

Depois não chorei mais,

Ao perceber que não eras

O que eu pensava.

Não eras...

Uma senhora.

Novembro, 1971.

Montevidéu

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Páginas da Memória, livro inédito

Gabriel Solís
Enviado por Gabriel Solís em 11/03/2011
Código do texto: T2842083
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